domingo, outubro 14, 2007

O estigma da felicidade

O *estigma da felicidade
Sim, isso mesmo... ele existe!

Como tudo escrito aqui está, de alguma forma, relacionado ao que eu percebo/vivencio (por isso o nome do blog), percebi que este estigma também existe. Construindo essa idéia pensei: “Mas para que esse “mal” exista, é preciso que haja, de fato, a felicidade. Então, é possível ser feliz?” Não consegui ir muito longe nesse caminho. Me perdi na estrada do conceito da palavra felicidade e ainda me dei conta que nem se quer precisava passar por ela. Pois, para que alguém sofra desse estigma nem se quer é preciso ser feliz. Não é a toa (nada é) que a palavra personalidade vem do grego “persona” que significa máscara, remetendo a idéia de atores contracenando em um teatro. Afinal de contas, somos todos personagens dessa história chamada vida que nem sempre é tão real como se conta. Como já disse Charles Chaplin de maneira muito feliz “ a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. (...)”. Durante muito tempo estamos contracenando papéis, e quem da os scripts? Nós mesmos, a partir de como vemos o mundo e criamos nossos conceitos. E já que toda relação é dual, talvez esse seja a parcela de “culpa” do estigmatizado, ele representa tão bem o papel de homem feliz que todos acreditam. No entanto, sofre quando não consegue sustentar essa máscara que tantas vezes parece um tanto pesada. Mas ninguém pode ser tão bom ator durante tanto tempo, nem mesmo de sua própria vida.

Então, se a “peça teatral” da felicidade é vista como realidade, será que isso se dá por uma falha na percepção do outro? Eu diria que não! Se há algum tipo de falha eu diria que é no desejo de ajudar. E quando falo em ajuda, passo longe do conceito de altruísmo (isso já foi refletido aqui, se de fato existe), se é que pode ser confundido como tal. Quando falo em ajuda, falo no simples ato. Ajudar, olhar... Olhar querendo perceber e enxergar o outro. Talvez isso sim, esteja faltando no ser humano: a disponibilidade e desejo de olhar o outro querendo enxergá-lo. “Qual motivo terei de contracenar meu verdadeiro papel, e por isso o mais bonito e mais bem elaborado, se ninguém ira olha-lo de maneira verdadeira e singular?” Talvez isso passe na mente das pessoas que insistam em usar máscaras tão densas, tão pesadas, tão incomodas...

Mas sinto que é preciso de um pouco de objetividade para falar de algo subjetivo. Afinal de contas, o que é esse tal de “estigma da felicidade” de que tanto falo? É um conjunto de idéias pré-formadas de algo, que no caso é a felicidade, que é “incorporado” em alguém. Todos os atos que são esperados de tal pessoa estigmatizada está ligada a um padrão pré-estabelecido de felicidade. È como se o alvo de tal estigma fosse tomado como O feliz, e qualquer comportamento que não se encaixe em tal “conjunto de comportamentos” soasse como algo estranho e desconecto. De tal forma que o ser estigmatizado passa a ser estranhado com qualquer outra atitude adversa ao seu conjunto de comportamentos esperados. A idéia de estigma está diretamente relacionado a idéia do pré-conceito no sentido stricto sensu da palavra. A partir disso, é possível pensar: “o que há de mal em ser “taxado” como uma pessoa feliz?”. Como todo estigma esse também trás prejuízos, pois ninguém é totalmente algo por completo. O ser humano é mutável e complexo demais para ser resumido em apenas uma idéia, um simples adjetivo. O estigma só serve para dificultar a existência plena do individuo, serve para reduzir o verdadeiro ser dos indivíduos e dificultar o olhar do outro.

No final de tudo isso me bate a porta uma outra (“Um homem nunca se banha duas vezes num mesmo rio...”) e mesma questão (são as mesmas palavras): é possível ser feliz, de fato? E por que ter de pensar sobre isso? Talvez a Clarice esteja mesmo certa e eu teimo em não aceitar quando disse:
“Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento.”.


*Estigma: Marca infimamente feita em ferro em brasa; ferrete. 2. Labéu, mancha, nódoa. 3. Pequena cicatriz de nascença.

Um comentário:

Unknown disse...

Pra ser sincera.. num consegui entender direito o texto =P.. tvz pq o conceito de felicidade seja tão subjetivo e confuso...

enfim... “Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento.”


xD