Quem me conhece sabe o quanto esse tal código me intriga e me irrita: Palavras!
Por que essas tais palavras existem?
Se dentro das convenções lingüísticas, que permitem o mínimo de interação entre as pessoas, cada um entende e aprende a partir de suas próprias vivências, pra que mesmo elas existem?
Será mesmo que elas conseguem alcançar um de seus objetivos que é facilitar a interação humana?
Não sei!
Eu vejo é que cada vez mais, há a invenção de palavras pra dar conta dessa tal comunicação e nunca me parece o bastante!
Será que não seriamos mais felizes se apenas sentíssemos um ao outro?
Não, não! Não acho que esteja sendo romântica demais, nem tão pouco anti-científica. Afinal de contas você pode até estar pensando: e como o saber científico, ou popular, seria passado de geração à geração?
Sobre esse assunto (forçadamente) eu indico uma leitura: “O mal da civilização” escrito por Freud. Como a maioria dos escritos dele, há uma aparente enrolação que por alguns momentos pode até tirar o leitor do sério, mas no final da leitura, acaba entendo, dentre tantas coisas, o quanto de idéias ele passou. Seu papel, como leitor, é perceber isso.
Mas ele coloca que um dos males da civilização, de outrora, que não difere muito das de hoje, são os desejos criados. Ou colocando uma palavra menos psicanalítica: O mal são as vontades criadas. Já faz um bom tempo que li esse livro, mas me lembro bem de um exemplo que Freud coloca. Ele fala de uma mãe que sofre por ter um filho longe, por não poder ter um modo mais rápido de visitá-lo. Pois bem, o mesmo mal que ela sofre por não existir é o mesmo mal que levou o seu filho pra longe: a civilização. Se não houvesse o trem que levasse seu filho pra longe, ela não sofreria pelo desejo que haja um avião, por exemplo, para trazê-lo de volta mais rápido. O tempo todo estamos criando desejos para suprir e compensar outros.
Um dia, nem lembro porque, um professor meu do ensino médio disse uma coisa que jamais esqueci, ele estava concordando com Freud e talvez ele nem soubesse disso: “O poço dos desejos é um poço sem fim”.
Mas o que isso tudo tem haver com as palavras?
Pois é, juro que tem haver!
Se homem algum é uma ilha em si mesmo, as idéias muito menos.
Nós nunca vivemos em um mundo onde essas danadas, chamadas palavras, não existissem, como poderemos saber se o mundo seria melhor ou pior sem elas? Já nascemos sabendo que elas são essências a qualidade da nossa sobrevivência, agora cabe a nós aceitarmos e criarmos outras formas de desenvolvê-la. Assim como a civilização. Não adianta muito alguém aparecer e dizer: vamos todos andar à pé, porque em alguns anos vamos até querer voar! Mas o que estou dizendo?! Nos já sabemos voar! O mesmo cabe as palavras...
A palavra é algo tão complexo e significante, que há quem acredite que a saúde mental e o auto-conhecimento só é possível através dela. Mas como uma pessoa que estuda pra ser um agente que fornece um espaço pra que se dê esse auto-conhecimento e saúde mental, fico pensando se sou capaz mesmo de me apropriar e dar conta desse tal código... se há quem possa se apropriar ou mesmo entender as palavras do outro de maneira integral e verdadeira. Talvez esse seja o motivo de os analistas afirmarem que dentro de um setting terapêutico, os inconscientes conversam. E pelo que eu entendo as palavras não entram ai!
Eu acredito, sim, que as pessoas possam até falar a mesma língua, mas nem sempre falam, as mesma palavras, com o mesmo sentido e intenção. Talvez por isso, prezo tanto por aquelas expressões: “Como assim?” “O que você quis dizer com isso?”
E ainda, diante de tudo: Talvez as palavras tenham vindo e consigam mesmo alcançar seu objetivo de facilitar a interação humana. E eu fico colocando a culpa do problema do mundo nas coitadas das palavras. È triste pensar, mas quem sabe Schopenhauer, com seu pessimismo, tenha mesmo razão quando disse que os humanos interagindo são como porcos espinhos com medo do frio? Não há como se encontrarem de maneira fácil e segura.
Então... Quem quer fazer uma greve de palavras com a minha pessoa?
Seria no mínimo interessante!
Ou então, quem sabe, eu não roubo a idéia de José Saramago* em criar uma cidade onde só existem cegos e uma outra onde as pessoas não morrem, e escrevo uma estória onde as pessoas não falam?
Essa eu bem que queria ver!
Contar uma estória onde as pessoas não usam palavras!
Quem sabe em um tempo onde as energias sejam comercializadas de maneira prática eu não consiga?!
E como sempre: tenho de terminar como comecei!
Palavras são vitimas ou algozes?
*Ensaio sobre a cegueira e Intermitências da morte
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